segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Sobre viagens e o contato com um mundo até então imaginado. Foto: Tiradentes, MG.
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Na época em que viajei regularmente ao Ártico, sempre perguntava aos yupiks, inupiats e inuits como eles definiam as pessoas que pertenciam à civilização da qual eu fazia parte. "Solitárias" foi uma resposta que ouvi com perturbadora frequência. A cura para a solidão, acabei por me dar conta, não está no aumento dos contatos sociais. Encontra-se antes na capacidade de estabelecer e manter relacionamento consequentes e num clima de intimidade. Decidi falar sobre isso porque é o desejo de intimidade aquilo que sinto com mais força toda vez que percorro paisagens como essas, tão bem evocadas nestas páginas. E aprendi que jamais sou invadido pelo entusiasmo provocado pela intimidade a menos que me torne vulnerável ao local, a menos que me aproxime da paisagem sem nenhum preconceito, a menos que confie na indiferença do lugar em relação a mim. Assim, sempre que viajo, tento me aproximar do território como se ele fosse uma pessoa. Tento me relacionar com ele como se tivesse sentido tão complexo quanto a personalidade humana. Para tanto espero que ele se manifeste. O tempo que for necessário. Espero. E espero.<



Por Barry Lopez, na reportagem "Terra de Gelo"
*Texto publicado na edição de Dez/07 da National Geographic.

domingo, 10 de fevereiro de 2008


Odelay! Autenticidade anos 90!

Se ligou no cachorro na capa?


BECK - Odelay - Geffen/MCA
Fax para Sérgio (SHOWBIZZ)
De: Zeca Camargo
Assunto: Deus
Sérgio, não vai dar para disfarçar: Odelay é o melhor disco do ano. Claro que eu não usei essa frase na resenha, como você pode conferir. Mas nothing compares to DIS! Listen: E um dia chegou Beck e acabou com tudo. Com essa bobajada de rock alternativo, com essa corja de bandinhas de nomes espertos, com essa chatice de guitarras que não querem dizer nada e com a inútil avalanche de vocais roucos e pseudônimos. Completamente moderno, Beck acabou com tudo isso com uma manobra tão simples, mas tão simples, que não dá para acreditar como tantos artistas se esqueceram disso: ser original. Odelay não se parece com nada que foi lançado nos últimos anos, nem mesmo com o anterior de Beck, Mellow Gold. Por isso mesmo, o disco tem uma importância tão grande na quebra de barreiras quanto Achtung Baby, do U2, ou 3 Feet High And Rising, do De La Soul. Seria difícil resistir à tentação de não evocar Sgt. Peppers, não fosse pelo fato de que Beck não ligasse para uma comparação desse nível. Então, dane-se. Vamos nos concentrar em algumas das tantas razões que tornam Odelay uma obra-prima. Que tal dez para começar?


1 - O refrão de "Devils Haircut";
2 - O clima bossa-nova de "Readymade", confirmado em seguida por alguns acord de "Desafinado";
3 - O sambinha (com direito à cuíca) misturado com eletrofunk (início dos anos 80) de "High 5";
4 - O potencial hipnótico de "Where Its At";
5 - A levada fofa de "Jack-Ass";
6 - O clima oriental de "Delerict";
7 - A bizarra combinação de blues com soft dance e até com uma sanfona (será de baião?) e mais umas distorçõezinhas em "Hotwax";
8 - A introdução de "Novocane";
9 - A retrô new wave de "Minus";
10 - "The New Polution" (inteirinha, sem especificações); Como Já foi sugerido, essas são só as dez primeiras razões. Outras virão.